Em 1988, o acesso da Série B para a A também teve tapetão no meio do caminho. Mas assim como este ano, o Timbu garantiu a vaga em campo
Por Newton Pinheiro
Historiador/pesquisador
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Novamente dentro das quatro linhas, Náutico está de volta à Série B do campeonato nacional. Foto: José Gomes Neto/CTN |
Há redondos trinta anos, em 1989, o Náutico, na Série B do Brasileirão, se envolvia em acesso também conturbado e que seria contestado no “tapetão”.
Historicamente, esse nosso último confronto contra o Paysandu é nosso segundo acesso entre divisões do futebol brasileiro, com bastante polêmica. O primeiro foi na Série B de 1988, quando "o Paysandu da vez era a Ponte Preta."
O campeonato fora decidido em fevereiro de 1989 mas se referia ainda ao do ano anterior.
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O certame de então era composto de fases desde o seu início. Os favoritos eram Ponte Preta, Náutico, Internacional de Limeira, interior de São Paulo, o Ceará e o Americano, de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. Naquele campeonato, assim como na Primeira Divisão, nomeada de Copa União 1988, o regulamento era idem, pra lá de controverso. Beirando ao ridículo, diria. O vencedor de cada partida no tempo normal ganhava três pontos. O empate levava a uma decisão de penalidades com o vencedor levando dois pontos e o perdedor um.
Naqueles anos apenas os dois primeiros da Segunda Divisão se classificavam para a Primeira do ano seguinte.
A última fase da então Série B de 1988, o quadrangular final, teve quatro de seus favoritos iniciais: o Americano/RJ, Internacional/SP, Náutico/PE e a Ponte Preta/SP.
Na última rodada do quadrangular decisivo, a Internacional já tendo garantido o acesso, jogava contra o Americano. A outra vaga seria decidida entre Ponte Preta e Náutico, jogo marcado para Campinas. Os sudestinos da macaca, chegavam à última rodada com 10 pontos contra 9 do Náutico. Assim, os pernambucanos precisavam vencer no tempo normal (levava 3 pontos) ou nos pênaltis (2 pontos) para eliminar a Ponte Preta na decisão da última vaga. Ao término da última rodada, os dois primeiros ainda iriam para uma partida única e decisiva para o título da competição, na casa do de melhor campanha (já definido para Limeira).
No dia da partida, uma notícia estourava nas manchetes: A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acabara de punir a Ponte Preta por conta de distúrbios de invasão de campo de sua torcida, em jogo anterior, e a partida mudaria seu destino para a próxima Mogi Mirim, há cerca de pouco mais de uma hora de carro, de distância. Sob protestos, a Macaca entrou em campo no estádio Vail Chaves e abriu a contagem logo aos 23 minutos do 1º tempo. A torcida pontepretana fazia a maior festa.
Se inicia o 2º tempo e o Náutico começava a jogar melhor. Até que aos 29 minutos, o zagueiro Barros empatava a partida, que seguiria assim até o seu final. Só que os sudestinos não aceitavam que a decisão fosse definida pelas cobranças de pênaltis. Para eles, isso só valeria para a contagem de pontos sem que valesse decisões diretas de vagas, já que o regulamento não era claro.
Quando terminou a partida, 1 x 1, os jogadores da macaca se abraçavam e sua torcida fazia a maior festa. Para eles, as cobranças dos pênaltis que viriam a seguir, eram só um pró-forma, ritual, já que o campeonato inteiro foi assim. Pelo lado dos pernambucanos, a certeza de que se vencessem nas cobranças, levariam a vaga e à decisão do título contra a Internacional.
Assim que o árbitro apitou o fim da peleja, a Ponte Preta fez pouco caso. Comemorou e foi bater os pênaltis relaxada, crente que já havia se garantido. Eis que o velho e lendário timbu se agigantou e nos tiros livres diretos a venceu por 4 x 3.
Após a disputa e vitória alvirrubra, a comemoração também foi para o lado dos pernambucanos. A partir daí o que se viu em campo foi festa de ambos os times e seus dirigentes. Começava o “disse me disse” e a polêmica: quem, de fato, teria garantido o acesso à Série A 1989?” As rádios do Recife cantavam em verso e prosa que era o Náutico. As de São Paulo inteiro, diziam que era a Ponte Preta.
No dia seguinte, a CBF emitiu nota confirmando o Clube Náutico Capibaribe como o classificado e com direito a três dias depois, disputar com a Internacional, em Limeira, o título da Série B 1988. Sob intensos, duradouros protestos, e com direito à ida ao Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), nove dias depois a Ponte Preta se viu “chupando dedos”, ao assistir o título do excelente time da Internacional, na vitória sobre o Náutico, por 2 x 1. De quebra e ainda incrédula, assistiu o término da competição e também sua derrota nos tribunais dias adiante.
Fui de mochila de São Paulo para Campinas. Claro, não poderia perder. Aportando na rodoviária de Campinas para assistir a decisão, descobri por um torcedor dono de uma banca de revistas, já revoltado, que a CBF tinha punido a Ponte Preta e a partida havia sido transferida para Mogi Mirim. Irrequieto e alvissareiro como sempre fui, logo ali mesmo comprei uma outra passagem de ônibus, dessa vez para Mogi Mirim, para assistir no caminho, uma avalanche de pontepretanos com destino ao mesmo objetivo, a Série A 1989.
Fiquei na torcida da Ponte Preta e pulei como um louco no gol de empate. Quase sou pulverizado. Por sorte, estava colado às cabines de rádio, e exatamente em frente ao pessoal da Rádio Clube. Tempos do saudoso Barbosa Filho e outros que não lembro. Acho que o Ralph de Carvalho também estava.
Ufa! Me resgataram em pânico: “você é doido de berrar e pular no meio dessa torcida da Ponte Preta? Eles são violentos” (imagina, não sabiam o que seria violência 30 anos depois).
Me colocaram dentro da cabine e lá terminei assistindo os pênaltis, já crente que se o Náutico vencesse seria o classificado. Voltei para São Paulo de carona com o pessoal da rádio e com uma felicidade incontrolável. Naturalmente não dormir naquela noite.
O lendário Náutico e as minhas lembranças. Trinta anos depois, eis que revivi esse momento raro de ser o “vilão vencedor” da vez.
Depois de empate dramático nos 90 minutos, Náutico conquistou a vaga nos pênatltis. Foto: José Gomes Neto/CTN |
VIDA LONGA, CLUBE NÁUTICO CAPIBARIBE!
Foi inesquecível. Impossível não tentar passar aquelas emoções através das linhas. Obrigado!
ResponderExcluirMuito legal reviver. Mas falando de agora esse negócio de já ter jogado a semifinal e ser julgado depois é fazer do papão de papangu. Até merece!
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