quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A vitória do caos

A falência de um sistema que não admite que falhou ou que perdeu o controle sobre a situação
Os pontos desencontrados no infinito materializando a abstração da figuração do caos. Foto: Intenet

As ações de integrantes de torcidas organizadas nas ruas do Recife, quando promovem sistematicamente o caos aonde quer que vão, nos traz à tona uma triste constatação: a vitória do caos.


Não seria oportuno afirmar isso aqui, caso não tivéssemos inúmeros e consistentes episódios, ao longo de mais de duas décadas, em bairros onde ficam sediados os três grandes clubes da capital pernambucana, nos dias de jogos.


Moradores e transeuntes dos bairros dos Aflitos, do Arruda e da Ilha do Retiro ficam numa ansiedade e preocupação. Em alguns casos, entram em desespero quando estão ante a expectativa que envolve partidas entre Náutico, Santa Cruz e Sport, respectivamente. 


Como se fora um câncer social em metástase, as investidas deixaram de ser apenas nos dias de jogos e somente na capital pernambucana. Elas acontecem também no Agreste, mais precisamente em Caruaru, envolvendo o Central.


Não bastasse esse cenário sombrio e obscuro no qual se encontra mergulhada a sociedade brasileira, depoimentos como o do presidente da Federação Pernambucana de Futebol, acirram os ânimos e endossam um discurso de ódio. O que piora ainda mais o já combalido quadro sócio-político-econômico social nacional. 

"Era para ter atirado neles" 


Apesar da promulgação da Lei Federal 10.671 de 15 de maio de 2003, popularmente chamada e conhecida por Estatuto do Torcedor, o poder público (nas três esferas) preferiu se ausentar do processo e esperar os ânimos arrefecerem. O que não aconteceu.

Estatuto do Torcedor  


Por sua vez, os clubes não se sentem co-partífices nesse contexto. A responsabilidade social de uma instituição sócio-esportiva está sim ligada ao que ocorre nas ruas. Afinal, eles dizem torcer e apoiar as respectivas cores de cada agremiação indiretamente envolvida. 
E já foram muito úteis quando eram utilizadas como base eleitorais, em especial nos anos de 1990 e 2000. Aliás, muito menos ainda alguns dos atuais políticos, que muitas vezes continuam a adotar esses grupos como sua base eleitoral. 
Enquanto cada um desses segmentos se esquiva da responsabilidade que têm, sobra para o cidadão comum. Seja ele adepto ou não do futebol. Como se trata de um desporto que agrega massas, o futebol está visceralmente ligado à cultura nacional.   


Dito isso, o equívoco está em achar que a solução para essas ondas de violência serão resolvidas com ainda mais violência. Justamente da parte de quem deveria cuidar e preservar as garantias constitucionais e os direitos sociais.


Atirar à revelia em direção a um grupo de vândalos não vai dirimir as sérias e ausentes questões sociais de base. Antes de punir é preciso educar. Sem oportunidade, o que resta a essas pessoas, na sua brutalidade e sociopatia, é escancarar a sua essência de viver e de estar à margem do sistema.


O problema não está no escudo de um clube de futebol. Mas na bandeira de exclusão de um processo social.

3 comentários:

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  2. Valeu, Neto. Agora é um caso de polícia e direção dos clubes. Prisão aos meliantes. Abraço.

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