terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Um embaixador do Náutico na Rússia


Odomiro Fonseca Filho levou as cores do Timbu para o país sede da Copa do Mundo de 2018


Na Praça Vermelha, em Moscou, Dodô exibe o manto sagrado. Nem o frio de 31 graus negativos tirou o seu ânimo. Fotos: Cortesia/Arquivo pessoal

Imagine o nome do Náutico reverberado do outro lado do planeta. Isso mesmo. Para ser mais exato, na terra onde será realizada a Copa do Mundo deste ano, a Rússia. O embaixador sem cargo do Clube chama-se Odomiro Barreiro Fonseca Filho.


Nascido no Recife, Dodô (apelido de infância) tem 36 anos e é formado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestre em Letras, também pela UFPE, Odomiro Fonseca aproveitou a oportunidade de morar em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e em outras duas cidades russas: Cazã e Naberejnye Tchelny, que ficam na Eurásia, para divulgar o Náutico. A Rússia é um país que se localiza entre dois continentes: Europa e Ásia.

Isso para concluir o doutorado em Letras (com habilitação em língua russa, pela Universidade de São Paulo/USP). Como consequência, ele exerce as profissões de professor, pesquisador e tradutor.

“Foram momentos marcantes na minha vida pessoal, profissional e estudantil. Convivi com uma cultura totalmente diferente da nossa. Mas tive a chance de aprender com a deles e retribuir com a nossa. E o Náutico fez parte disso também”, destaca Dodô.



Dodô em visita à sede do Rubin Cazã, em dia de destaque para o estudante brasileiro


Assista ao vídeo da apresentação dos jogadores do Rubin Cazã, em que Dodô foi notícia:



Leia a matéria sobre Dodô, na Gazeta Russa:
https://br.rbth.com/esporte/2014/08/31/de_estudante_de_letras_a_superstar_do_futebol_27159




Da relação com o Náutico


Sua ligação com o Clube Náutico Capibaribe começa com uma virada de casaca. Aliás, duas. Antes de se considerar como legítimo torcedor do Náutico, ele chegou a gostar do Sport e do Palmeiras. “Mas nunca tive camisa nem bandeira do Sport, graças a Deus!”, comemora.


“Por muito tempo escondi que não era torcedor do Náutico. Meu pai é Náutico e sempre foi democrático. Mas sempre acompanha os jogos pelo rádio de pilha. Já um tio materno era Sport. Na década de 1980, por influência dele, meu tio saía nas casas dos primos para levá-los aos jogos na Ilha do Retiro. Lá, ele comprava picolé, pipoca, essas coisas que criança geralmente adora. Dos netos do meu avô materno, Emílio Lima, só eu me tornei torcedor do Náutico”, conta Dodô, com orgulho.


E provoca: “Agora, com certeza, ano passado, mesmo com campanhas sofríveis do Náutico, fui a mais jogos do Timbu do que os meus primos rubro-negros foram a jogos do Sport.”



DNA Alvirrubro


Com o pai, seu Odomiro Fonseca, 84 anos, Dodô herdou o amor pelo Clube Náutico Capibaribe

Em 1990, Odomiro desistiu do Sport e passou a torcer pelo Palmeiras. “O time palmeirense venceu os rubro-negros por 1 a 0, na Ilha do Retiro. Foi antes da chegada da Parmalat. Foi então que passei a me identificar com o Palmeiras”.

Mas a virada de casaca definitiva para o Náutico ocorreu devido a um incidente com o seu pai, Odomiro Berreiro Fonseca, hoje com 84 anos. “Já tinha ido a jogos do Náutico antes, mas não torcia. Inclusive fora do Recife. O ponto de referência foi o problema de saúde do meu pai”, conta.


“Em 1995, eu tinha 14 anos. Na noite de São João, painho teve um infarto. Então, ele teve que passar um mês no hospital. A recomendação médica era de evitar emoções fortes. Assim, ele teve que deixar o Náutico de lado. Mas foi justamente a partir daí que passei a torcer pelo Náutico. Pois ele não deixava de acompanhar o Timbu pelo rádio. Me senti na obrigação de herdar o bastão e torcer pelo Náutico”, revela Dodô.


Dodô lembra também um amigo alvirrubro. Sempre que podia, ia com a família dele e o levava para acompanhar o Náutico. “Diogo Freire ia aos jogos do Náutico, nos Aflitos ou em outros estádios, sempre que podia. Ainda hoje ele continua a ir”.


Primeira vez nos Aflitos


A primeira camisa do Náutico veio como presente, em 1996. “Estudava na 8ª série quando ganhei uma camisa da Fanáutico. Foi numa partida entre Náutico x Moto Clube, nos Aflitos, o meu primeiro jogo como torcedor alvirrubro. E nós ganhamos!”.


“Era para eu ter mais de 100 camisas oficiais do Náutico. Isso porque eu sempre presenteei os meus alunos que diziam ser torcedores do Náutico, ao longo dos anos. Hoje tenho 17.”
Aqui não é camisa, mas a bandeira oficial do Náutico que serve como referência aos alunos russos do professor Odomiro

Diferente de hoje em dia, ir aos jogos no Recife não era motivo de apreensão e angústia para as famílias.




“Quando comecei a frequentar o estádio dos Aflitos, quem me levava era a minha mãe. Naquela época não havia essa violência de hoje em dia. Íamos aos sábados para a Sede, picar papel, organizar as faixas e bandeiras para os jogos, que eram aos domingos. Meu apelido na Fanáutico era ‘How are you’. Isso foi fruto de uma brincadeira. O pessoal tentava falar em inglês, mas não era lá essas coisas…", lembra.


Ele conta que foi diretor de relações públicas da Fanáutico. "Firmei o nosso convênio com a Comando Vermelho, do CRB, em Maceió. Fiquei na Fanáutico até 1998. Depois, na vida adulta, sempre que podia, acompanhava o Náutico”, conta Dodô.



Confrarias do Náutico:

Em São Paulo, Odomiro se tornou membro da Confraria Timbu da Garoa, em 2012. Aqui ele está no Estádio do Pacaembu


Odomiro conta que em São Paulo viveu momentos marcantes como membro da Confraria Timbu da Garoa. “Quando morei em São Paulo me tornei membro da Confraria Timbu da Garoa. Cheguei a fazer a faixa e a pintei à mão, em 2012”, conta.


Naquela temporada, o Náutico era quase imbatível nos Aflitos, durante o Campeonato Brasileiro da Série A. “Quase todos os times de São Paulo apanharam do Náutico nos Aflitos. Era muito bom reunir o pessoal e torcer juntos, vendo os jogos pela televisão”, relembra.


Já no Rio de Janeiro, em 2014, Dodô inovou e fundou a Confraria Timbu Carioca. “Lá no Rio fui fundador da nossa confraria. A diferença em relação a São Paulo é que no Rio era difícil reunir o pessoal, por causa do transporte coletivo. Conseguíamos reunir 14 pessoas por jogo, no máximo, para acompanhar os jogos do Náutico”.
No Rio, foi fundador da Confraria Timbu Carioca. Com demais alvirrubros lá radicados para assistir ao jogo do Náutico





Volta aos Aflitos
Voltar a jogar nos Aflitos será o ponto de retorno da identidade do Náutico, segundo Dodô



Na opinião de Odomiro Fonseca, tão importante quanto o mando de campo é o fator cultural. Segundo Dodô, com o Náutico jogando na Arena de Pernambuco, a cidade não vê o Timbu. O Capibaribe, que faz alusão ao rio da cidade, é o próprio nome do Clube, diz ele.


“O Náutico quando jogava nos Aflitos, a cidade via a coletividade. A torcida se fazia presente na cidade. Agora, não ouvimos mais buzinas, não vemos mais camisas como antes. A própria mobilização da torcida é diferente. Sinto muito a questão da invisibilidade cultural. Acho que isso será o mais importante na volta aos Aflitos”, defende.



Mensagem à torcida do Náutico


Não perder a esperança em dias melhores. Eis o recado de Dodô para a torcida do Náutico.


“Os próximos cinco anos serão de provação. O Náutico tem que ter muita responsabilidade administrativa. Deixar de passar vergonha na imprensa. Não pagar aos jogadores, isso tem que acabar. Depois, mesclar a base com jogadores mais experientes e fazer um time forte, competitivo. Temos que saber cobrar”, aponta.


Por fim, Odomiro acredita que a paciência será a melhor virtude para o torcedor timbu.


“O Pernambucano desse ano acho que infelizmente o Náutico só vai participar. Hora da gente mostrar a nossa fibra para colher resultados à frente. Nos próximos dois anos, não vejo a gente ganhando títulos importantes. Mas o acesso à Série B será fundamental. Enfim, voltar a jogar nos Aflitos e ter uma base consolidada serão questões importantes”, conclui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é tão bem vinda quanto o respeito que a acompanha!!
Obrigado pela visita.