O boneco gigante Timbu ainda marcou a conquista do título do Náutico de campeão do Centenário da República
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Pé quente: o Bonzão foi marcado pela originalidade e cultura popular no futebol pernambucano. Foto: Acervo/Facebook/Timbucana |
Ainda me lembro como se fosse ontem. Tudo começou em maio de 1989. O Náutico disputou um clássico contra o Santa Cruz, no Arruda, pelo Campeonato Pernambucano daquele ano. Nesse dia, os alvirrubros teriam uma novidade nas arquibancadas: entrava em cena um dos mais folclóricos e arraigados mascotes de torcidas do Clube Náutico Capibaribe: o Bonzão.
A não menos folclórica torcida etilicamente organizada Timbucana (fundada em dezembro de 1983) dava ênfase ao mascote Timbu, marsupial bebedor incondicional de aguardente que representa as cores vermelho e branco do centenário clube recifense. Aliás, o velho Timba traz no nome a condição de representante geográfico pernambucano: o Rio Capibaribe.
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Fundada em 8 de dezembro de 1983, a Timbucana marcou época nos Aflitos. Arte: Acervo/Timbucana/Facebook |
Testemunhava-se ali o fato de ser a primeira torcida do Estado a ostentar a tradição de ter um boneco gigante com a cara do mascote Timbu – o Bonzão. Os bonecos gigantes são o símbolo maior do Carnaval de Olinda, imortalizados pelo mestre Botelho.
De volta àquela memorável partida, o Náutico ganhou do rival das três cores, e de virada. O primeiro gol do clássico fora marcado pelo ponta esquerda tricolor Rinaldo, numa cobrança de falta aos 27 minutos do primeiro tempo. Na etapa final, o ponta direita Nivaldo igualou e o velho ídolo Bizu fez valer a fama de goleador nato (ou melhor, Náutico!)e virou o placar em favor do Glorioso. Final do Clássico das Emoções: Náutico 2 a 1.
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O Bonzão era o xodó da Nação Timbu. Foto: Acervo/Facebook/Timbucana |
Eis a estréia do Bonzão. Rodadas mais tarde o Náutico levantava o primeiro título centenário (de fato e de verdade). Naquele campeonato, o nome do troféu oferecido ao campeão era “Centenário da Proclamação da República”. Uma homenagem da Federação Pernambucana de Futebol (FPF) aos 100 anos de proclamação da República Federativa do Brasil (1889).
A partir da década seguinte, o Náutico chegava às finais do Estadual, mas não conseguia concluir com competência. Em compensação, o time disputava a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro e foi a primeira vez que o Brasil assistia, das arquibancadas, ao comparecimento de um boneco gigante aos estádios de futebol na história do futebol em Pernambuco. O Bonzão despertava curiosidade e gerava elogios dos mais entusiasmados. Inclusive, chegou a ser capa local e nacional de periódicos esportivos daquela época.
Porém, na mesma proporção, o Bonzão era odiado pelos torcedores rivais do Santa Cruz e do Sport, que não engoliam uma iniciativa tão espontânea, inédita e popular, de identidade pernambucana, e que partia de uma torcida tida como elitizada, bem diferente do perfil dos torcedores dos históricos adversários do Náutico.
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Mais do que apenas um mascote, o Bonzão é símbolo da cultura popular de Pernambuco. Foto: Acervo/Facebook/Timbucana |
Pois bem, como o clube não ia bem das pernas sobrou para o Bonzão a pecha de "azarento" e responsável por tudo de ruim que acontecia ao Náutico. Principalmente dentro de campo. Isso era uma injustiça sem precedentes, afinal de contas, o Bonzão estreou como vencedor!
O PROTESTO POLÍTICO
O PROTESTO POLÍTICO
Outra questão que fez com que alguns torcedores da Timbucana ficassem com as barbas de molho foi um protesto feito contra o presidente (ou seria rei?) da FPF, Carlos Alberto Oliveira, se não me engano no ano de 1994. Na ocasião, o dirigente fora “enterrado” pelos membros da torcida, e o seu “funeral” aconteceu nas sociais do Eládio de Barros Carvalho. A represália fora imediata e o autoritário cartola jogou pesado contra os alvirrubros.
RESURGIMENTO DO BONZÃO
RESURGIMENTO DO BONZÃO
Com o início do novo século, o 21, veio o soerguimento do Clube Náutico Capibaribe. A autoestima dos torcedores alvirrubros foi resgatada a partir da memorável conquista do título de Campeão do Centenário em 2001 (o Estadual de 2001, que inclusive evitou o HEXA do arqui-rival Sport, e o segundo troféu centenário fora conquistado, de fato e de verdade); e o retorno à elite do futebol brasileiro.
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E ele ainda existe e resiste: Salve o Bonzão! Foto: José Gomes Neto/CTN |
O retorno da Timbucana me faz lembrar que os bons tempos estão de volta aos Aflitos! Não adianta quererem fazer menção de malogro para o Bonzão, como grande parte da imprensa local vive fazendo contra o Náutico! A hora é de resgatar a história pioneira que os torcedores timbus escreveu, e escreve, com muita galhardia e senso crítico.
Pelo contrário. Os anos de pausa para destilar o álcool vermelho e branco do entusiasmo, criatividade e paixão só proporcionaram qualidade ao teor dessa torcida vibrante e inovadora. Por isso quero propor aqui um brinde, com cana de cabeça, é claro, com todo o esplendor que o momento pede:
Saudações alvirrubras e seja bem-vinda à casa Timbucana!!!!!!
Avante, Náutico!
(*) Crônica publicada por mim, José Gomes Neto, em 6 de junho de 2007 no site da Nauticonet.
Materia de primeira, do nosso Bonzão.
ResponderExcluirMuito obrigado, Alexandre!
ExcluirSaudações alvirrubras!!!